Caixote de feira sempre foi mais do que uma embalagem de frutas para Rogério Demarchi. Era ali que ele ficava quando ainda bebê fazendo companhia para o seu pai, feirante até hoje, que nasceu em Minas Gerais e descobriu esse mundo com os antigos patrões que vendiam pastel frito na barraca.
Literalmente de berço, a tradição o acompanhou por todos os seus 35 anos. Quando ainda criança, seu pai perdeu o controle da direção enquanto conduzia o caminhão de produtos e arremessou Rogério contra o parabrisa. Imediatamente, ele perdeu a visão de um olho. O episódio trouxe preconceito, mas não abalou sua ambição profissional.
Foi como feirante no CEAGESP que ele encontrou sua vocação para identificar os melhores produtos e comercializar para os clientes que buscam frutas e legumes frescos.
Sua sócia e parceira não foi apresentada no varejão. O encontro aconteceu no Tinder. Depois de um mês trocando mensagens pelo aplicativo, se conheceram e logo se casaram. Caroline Demarchi, 38, era enfermeira e viveu com ele o sonho de ter um bebê juntos.
Quando os desejos pareciam realizados para o casal, veio a pandemia. Os clientes que disputavam as bancadas do CEAGESP sumiram. Foi assim que a tecnologia reaproximou o casal mais uma vez. Dessa vez, no mundo do negócio.
Com criança de colo e pouca perspectiva no varejão, Carol e Rogério decidiram inverter a ordem. Em vez do cliente sair de casa, era a feira que iria até a casa do cliente. Em poucos dias de quarentena, divulgaram um número de Whatsapp para as pessoas mais próximas e passaram a fazer entregas.
Foi assim que os descobri. Uma das suas primeiras clientes no novo formato foi a fotógrafa e moradora do Campo Belo, Ana Mantezi. Apaixonada pelas frutas recebidas em casa, enviou uma foto da sua bebê no grupo de Whatsapp do @CampoBeloDicas. Todos ficaram babando nos produtos, inclusive eu.
Entrei em contato pelo número e logo recebi duas caixas lotadas das frutas e legumes mais frescas que entraram na minha casa. Era uma redescoberta de cores, sabores e texturas. Tudo perfeitamente embalado e selecionado.
O que era para ser uma entrega trivial, virou uma surpresa. O negócio ainda não tinha nome fantasia, nem mesmo um perfil no Instagram para marcar e divulgar o serviço para os vizinhos. Foi nessa necessidade que puxei um papo com a Carol sobre a marca. Entre um áudio e outro, nasceu o nome Feira na Caixa e o primeiro post nas redes sociais (@feira_nacaixa).
De improviso, criei uma logo para eles e fiz algumas fotos de produtos para ela divulgar. Contei a experiência no @CampoBeloDicas e nada mais. Bastou isso para a Carol assumir a liderança da comunicação e realizar diversas ações de engajamento com os clientes que não paravam de chegar.



O sucesso acompanhou o empenho do casal. Logo surgiram novos parceiros, como a Ana Kemp, criadora do @BrooklinIndica. A Feira na Caixa virou moda nas redes sociais. A tendência acompanhou os resultados. Hoje, a empresa chega a vender quase mil caixas por mês, especialmente na zona sul de São Paulo.
Carol deixou o emprego de enfermeira e assumiu mais um casamento com o marido como sócia do negócio. Juntos, realizam toda a operação. Não demorou muito para lançar um site com vendas online e conquistar dezenas de clientes que mais parecem fãs.
A história da Feira na Caixa já foi parar até em jornal da Rede Globo. Além de clientes, encontraram famílias e negócios para doar produtos excedentes e estender a rede de apoio que fortalece a corrente de novos negócios em plena pandemia.
Mais que uma narrativa de uma empresa que nasceu na quarentena é a prova de que quando concentramos nossas compras no pequeno comerciante fazemos dele gigante. #CompreDoPequeno